Morte

Aquela deveria ser mais uma noite como as anteriores, mas havia algo no jeito como as coisas tinham acontecido naquele dia que me fazia esperar por algo. Meu estômago se contorcia e eu simplesmente não podia ficar sentada na mesa do jantar, dando ouvidos aos meus devaneios típicos de fim de dia. Inevitavelmente, em alguns minutos, a chuva se tornaria um misto de trovões e relâmpagos, o cheiro da umidade me impregnava. Empurrei a cadeira com a parte de trás dos joelhos e me obriguei a caminhar até a sacada do apartamento e baixar o rosto para o trânsito inquieto lá embaixo. Era deprimente compreender o quão isoladora uma cidade grande podia ser. Todas aquelas luzes, toda aquela música. Nada me apetecia, eu queria ficar presa no apartamento, por tempo indeterminado. Ele não viria aquela noite, então eu me sentia fria como o vinho na taça abandonada sobre a mesa. O vento sibilava nos ouvidos, jogando meus cabelos na frente dos olhos.

-Você jamais o terá de volta – murmurou aquela voz insistente e cruel que costumava me perseguir todas as noites desde aquele dia.

-Eu sei – respondi para o céu, não mais tentada a me virar como se houvesse alguém tangível atrás de mim.

Aquela maldita voz vinha do nada. Talvez, mais tarde, eu descobrisse que era a culpa ecoando nas cercanias da minha mente exausta. As notas melodiosas de um piano anunciaram minha desistência, dei as costas para a varanda e decidi que, sob aquelas circunstâncias, o melhor seria fechar os olhos e tentar varrer, por um noite, as lembranças pesadas de uma morte.

***

Esse texto está no abismo-particular, mas como eu vou ficar mais ativa nesse blog daqui, decidi trazê-lo pra cá, até porque ele é muito importante pra mim. Don’t ask me why, haha.

1 comentário (+adicionar seu?)

  1. Mãe
    jul 17, 2010 @ 00:42:10

    “Li e penso que mesmo sendo tendencioso dizer, considero muito bom seu texto.Tanto no formato quanto no conteúdo. Eu sei, você vai dizer: ” ah…mãe não vale elogiar”. Mas, o que posso fazer se mesmo que pudesse não abriria mão de ser sua FÃ nº 1. Não se atreva a delegar este lugar para mais ninguém. Você escreve muito bemmmmm. um grande beijo!!!”

    Responder

Deixe um comentário